Vista panorâmica de Monte Horebe por Xicobasílio |
Em décadas passadas, mais precisamente no final da década de 50, quando eu estudava no Grupo Escolar Dom Moisés Coelho, em Cajazeiras, ao entrar de férias escolares, eu e meus irmãos já tínhamos um roteiro para passar as férias no Sítio Rita, de meus avós João Martins de Oliveira (Padim João) – pai de minha mãe e Antônio Pereira de Souza (Padim Tonho), pai de meu pai. A casa de Padim João era a preferida para nos acolher. O Sítio Rita fica a uns cinco quilômetros de Monte Horebe, Paraíba, e há 47 quilômetros de Cajazeiras. Monte Horebe é uma pequena cidade que fica localizada em cima da serra e seu clima tropical é muito agradável.
Lembro-me muito de várias brincadeiras que inventávamos e também ajudávamos nossos avós e tios a trabalhar na roça na plantação de milho, feijão, etc. Também ajudávamos as nossas tias a pegar água no açude para que elas fossem lavar roupa. Esse açude ficava próximo da casa de Padim Tonho. Nesse sítio tinha uma casa de farinha que pertencia a Padim João e uma outra que pertencia a Padim Tonho e no mês de junho/julho era época de farinhada, onde um grande número de pessoas trabalhavam em várias funções para o preparo da farinha e da goma. Da goma se fazia tapiocas e beijús. O início dos trabalhos de uma farinhada começa na roça, onde trabalhadores vão arrancar a mandioca e transportá-la em caçuás nos lombos de jumentos ou cavalos.
Ajudávamos também nos afazeres domésticos, como pegar água na cacimba e colocar nos potes para o consumo do dia-a-dia, buscar lenha no mato para acender o fogão e ainda colher frutas nos pés de laranja, manga, goiaba, pinha, banana, etc... No terreiro da casa de Padim João tinha um cajueiro muito grande com seus mais ou menos dez metros de altura com uns 20 metros de largura.
Em frente a casa de Padim João, tinha a casa de João Nestor (cunhado de minha mãe), e várias outras próximas as de meus avós, como a de tia Santina; a de seu Manoel Filipe; a de Cícero Cruz; a de Zé de Sousa; a de João Biró, entre outras.
Há uns dez quilômetros dessas casas, ficava a Fazenda “Os Pires”, na localidade da Boa Vista, de meu tio Santino Monteiro e tia Moça (que teve 22 filhos). Tio Santino tinha muito gado, era fornecedor de leite e todos os dias nós íamos buscar o leite. O trajeto era por dentro das roças, logo adiante passávamos por cima da parede da barragem de tio Santino e, em seguida, por dentro das pastagens onde o gado passava o dia se alimentando. Nesse trecho procurávamos andar sempre próximo as cercas, que dava mais segurança, no caso de os bois correrem atrás da gente.
Naquela época, como não havia eletricidade nos sítio, à noite tudo era iluminado com candeeiros e somente o rádio de pilhas grande, da marca ABC canarinho, era o divertimento do pessoal quando se ouvia as rádios Alto Piranhas e Difusora de Cajazeiras, na Paraíba, e também as rádios Iracema e Progresso, de Juazeiro do Norte, no Ceará.
Os tempos foram se passando e o Brasil foi ganhando impulso nas áreas de energia com altos investimentos em hidrelétricas, fazendo com que o homem do campo chegasse a ter acesso a energia elétrica, a exemplo do programa “Luz Para Todos”. Com esse novo investimento, fez com que os sítios, chácaras e fazendas, passassem a usufruir do rádio, televisão, micro-ondas, geladeira, entre outros aparelhos elétricos eletrônicos e, por fim, a Internet. Isso mesmo. A Internet chegou na zona rural fazendo com que o Sítio Rita se abraçasse ao mundo virtual, através de um provedor localizado em Monte Horebe. Nunca se imaginava que o homem do campo fosse ouvir uma rádio do Japão, através do rádio e hoje chega a acessar a muitas rádios no mundo inteiro através da Internet. E também o homem do campo ganhou uma outra modalidade de comunicação, que é o telefone rural. Ou seja, através de celular se comunica com as cidades.
O meu avô João Martins de Oliveira, quando era vivo, se admirava muito do avião, do rádio, do automóvel, entre muitos outros e tinha uma frase que sempre se expressava referindo-se a tudo isso: “é muita ciência!”. Imagino o que ele não diria hoje se fosse vivo.
PEREIRA FILHO
Radialista
Brasília – DF
jfilho@ebc.com.br